Lan-house e Larousse
Trabalhando desde o início do mês na Bienal do Livro, que acontece aqui no Rio, até o próximo domingo, pude notar que apesar do evento contar com uma multidão de visitantes, nem todas essas pessoas usufruem, de fato, do prazer e dos conseqüentes benefícios da leitura.
Mas você deve estar se perguntando: o que a Bienal tem a ver com tecnologia e especialmente com lan-house? (pronuncia-se “lã rause”)
Vou explicar. Mas antes, cabe uma breve explicação sobre o que é uma lan-house.
São duas palavras em inglês. Ao “pé da letra”, lan significa rede. E house, casa.
A união dessas duas palavras é usada para identificar um estabelecimento onde computadores estão interligados, ou seja, em rede. (prometo falar sobre redes numa outra oportunidade)
Nesse local, seus freqüentadores pagam pelo uso do computador para acessar a internet, se relacionar em redes sociais, jogar, digitar textos, para mencionar apenas algumas das possibilidades diante do pc conectado.
Para esclarecer a relação que estou fazendo entre a Bienal do Livro e lan-house, compartilho com vocês um fato que vem se repetindo, desde o início da feira de livros.
Estou trabalhando no stand da Larousse (pronuncia-se “lá russe”). Uma editora consolidada no mercado literário, conhecida pelas enciclopédias e tantos títulos interessantes.
Apesar disso, venho sendo abordada por adolescentes entre 12 e 16 anos, fazendo uma pergunta, no mínimo curiosa: “Por favor, quanto é a hora na lan-house?”.
Em resumo, a garotada desavisada vê Larousse e interpreta como Lan-house.
E eu fico pensando quantos estão inseridos na tecnologia, são desenrolados com celulares e tantos aparelhos eletrônicos e mal sabem ler.
Não estou generalizando, mas fico triste por ver essa garotada transitando tão bem em redes sociais, mas não tendo o mesmo desempenho em outros meios.
Ratifico que a pergunta “curiosa” não foi feita a mim por um ou dois adolescentes, mas por vários.
Também não pretendo apresentar soluções, mas promover uma reflexão.
O que estamos fazendo com nosso tempo repleto de tecnologia? Tornando a vida mais práticas? O que fazemos com o tempo que sobra?
Finalizo com um pensamento, atribuído ao Bill Gates.
“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.” (Bill Gates)
Abraço a todos,
Claudia Sardinha
A população brasileira na sua maioria jovens não têm acesso a livros por razões muito sérias de educação. A própria escola e seus professores devem incentivar desde muito cedo, as crianças a gostarem de ler. e para isso, devem incutir o prazer, a delócoa que é aprender a aprender. gostar nem se fala..muito prazer, aumento da percepção, outro e muitos olhares para o mundo. Um novo universo estará à espera desta moçada. Vamos incentivar, abrir caminhos, fazer valer!
Adorei o texto. Muito bom!
Caramba, só mesmo os jovens para fazerem este tipo de confusão. Quando eu era criança, a enciclopédia Larousse era vendida de porta em porta e era a nossa fonte de consulta em trabalhos de escola. Eram muitos volumes. Será que esses garotos ainda sabem consultar um dicionário ou enciclopédia?
Olá, Cláudia!
Tenho acompanhado seu blog que considero muito interessante e, muitas vezes, útil mesmo. Sua forma mais “feminina” de tratar as questões tecnológicas me agrada bastante, com textos claros, objetivos, porém leves. Parabéns! Com relação a confusão entre ‘lan house’ e ‘Larousse’ concordo com seu ponto de vista. Crianças e jovens de hoje em dia tem negligenciado a função social da escrita, reduzindo perigosamente a aplicabilidade da língua. Apenas acrescentaria que esses jovens que tem te abordado possuem um contexto sócio-histórico-cultural predominantemente baseado no campo da informática… então, como normalmente o cérebro não lê as letras isoladamente e sim palavras contextualizadas, pode ser que isso tenha auxiliado a criar a confusão. Apenas um ponto de vista… Mais uma vez parabéns pelo trabalho de qualidade!
Um abraço
Por hábito da não leitura, Bel, hoje em dia poucos jovens (ou poderia me arriscar a dizer nenhum?) conhecem a enciclopédia Larousse. Lembro-me bem dessa venda de porta em porta e da concorrente – a Barsa. Será que estamos velhas? rs
Agora toda consulta é feita pelo Google, Wikipedia… enfim, sempre a internet. Uma fonte rica em material, mas ainda duvidosa em seu conteúdo.
Em todo caso, o que a Claudia Reis falou faz sentido. A Universidade de Cambridge comprovou que podemos embaralhar as letras de uma palavra, bastando deixar a primeira e a última de forma corretas, que o cérebro reconhece normalmente. Esse t3st3 também foi f31to com números e func10na.. rs.
Devemos admitir que livros como os da Talita Rebouças (coleção Fala sério, mãe, pai etc), Crepúsculo e Harry Potter ainda estão salvando alguns poucos. Só não concordo com a Fernanda. Trabalhando em feiras com Bienal e FNLIJ, descobri que os professores possuem uma verba para compra de livros para as bibliotecas das escolas. Ou seja, não é por falta de acesso, mas sim por falta de estímulo que esses jovens não lêem. É preciso uma reformulação ns métodos de ensino para inserir novamente essa prática, mas de forma prazerosa.
E já que estamos falando de internet e jovens que não lêem (e por consequência – infelizmente sem rtema, rs), segue um site que achei na internet. um tradutor de Miguxes para compreender melhor a escrita tribal desses jovens…rs.
http://www.coisinha.com.br/miguxeitor/
Claudia, sou professora de Literatura há muitos anos e sei bem como é difícil (não impossível) convencer os alunos a ler. Digo convencer, porque , por mais que os estimule, eles se recusam a ler qualquer coisa que tenha o resumo, a resenha, qualquer sinopse que haja na internet. Não desisto, mas é duro ouvi-los dizer que não gostam de literatura, de leitura, de livros e afins. Eu nunca fui estimulada a ler, procurava os livros por vontade própria, e não compreendo como alguém possa não gostar de ler.
beijo, menina
Oi Cláudia, Muito boa sua observação, não é de hoje que nos surpreendemos com a falta de informação da garotada. Nosso país ostenta índices educacionais, para não dizer civilizatórios, bem abaixo da média mundial e ainda faz feio entre os sul americanos. Não tem governo de esquerda ou de direita que dê jeito nisso. Que moleque vai perder tempo estudando com tanto futebol, televisão e praia?